sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Moro na rua, mas tenho nome e sobrenome

Hoje eu conheci o Diego, Diego Bachi, como ele fez questão de se apresentar. Não perguntei a sua idade, mas acredito que ele não tenha mais do que 25 anos. Quatorze desses anos, ele viveu na rua, segundo me contou. Perguntei onde morava e ele disse que estaria mentindo se me dissesse algum lugar. A família mora no Barro Duro, ele na rua.
Diego é um artista. Com tinta acrílica ele pinta azulejos, que cata em restos de obras. A sua habilidade impressiona. Dois minutos e a obra está pronta. Ele pintou um pra mim, personalizado, com o meu nome e tudo, em poucos minutos. Encontrei ele, de manhã cedo, remexendo a lixeira do meu condomínio em busca de restos de azulejos. Pediu licença, sempre se desculpando, como se sua condição ofendesse as pessoas.
Ele só queria um pouco de atenção. E conseguiu. Aos poucos, o temor que senti ao ser abordada por aquele rapaz desconhecido se transformou em simpatia e admiração pelo seu talento. Cativante, fala mansa, passa confiança, mas sabe que a maioria das pessoas não está disposta a dar sua atenção para um morador de rua. Agradeceu os R$ 2,00 que eu lhe dei - era todo o dinheiro que eu tinha naquele momento, troco do leite e do pão - e foi embora.
Não sei se encontrarei o Diego de novo, mas ele me fez pensar. Às vezes reclamamos de coisas pequenas, que nos incomodam no dia-a-dia e esquecemos que bem ao nosso lado, alguém poderia não se importar de ter de resolver pequenos problemas. Não sei se ele é feliz vivendo dessa maneira. Não parece ser. Ele tem um olhar triste, perdido. O rapaz me fez refletir sobre o quanto o ter é insignificante.
No início da semana passada, perdi o meu irmão mais velho. Morreu longe de casa, enquanto viajava a trabalho. Fazia oito anos que eu não via o meu irmão. A última vez que falei com ele foi por telefone, no Natal. Meu irmão morava em Guaíba mas vivia viajando a trabalho e nas poucas oportunidades em que esteve em São Lourenço, quando poderíamos nos encontrar, algo me prendia em Pelotas e o tempo foi passando. Se eu pudesse adivinhar que eu nunca mais iria abraçar meu irmão teria largado tudo pela oportunidade de vê-lo mais uma vez. Agora, ficou a saudade e a dúvida se alguma vez eu disse a ele que o amava. Isso sim é o que importa, se importar com as pessoas. Dar atenção a elas. Não é o dinheiro que vai fazer as pessoas mais felizes, mas saber que em algum lugar, alguém se importa com elas.

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